Textos

Lesões na sala de Yoga

por Rosana Biondillo

Ultimamente, tenho lido matérias sobre os problemas causados pela prática indevida de Yoga. E embora toda essa exposição seja, em minha opinião, muito saudável e benéfica, percebi através dos depoimentos de algumas pessoas que passaram por essa que é, no mínimo, uma experiência muito desagradável, a frustração e a decepção de se sentir duplamente lesionado: tanto fisica como emocionalmente. Mas percebi também que a esmagadora maioria dessas situações poderiam ter sido completamente evitadas. Neste artigo, você vai encontrar algumas ponderações sobre as colocações mais persistentes por parte daqueles que se dizem lesionados e algumas sugestões para refletir sobre a importância de poder praticar Yoga de uma forma saudável, eficiente e segura.

Riscos de danos físicos

Pode parecer lugar comum dizer isso, mas nós sempre estamos correndo riscos de danos físicos. Basta estar vivo para correr esses riscos. Certa vez Sivananda, ao ser questionado sobre os perigos da prática do Yoga, disse que em certas circunstâncias corremos mais riscos pelo simples fato de atravessarmos uma rua do que pelo fato de praticarmos técnicas específicas e sutis do vasto repertório yóguico. E todos nós com certeza sabemos que o corpo físico é limitado por natureza. Mas o que também precisamos saber é que ele é altamente equipado com dispositivos de segurança que nos impõem limites e que funcionam como barreiras de proteção naturais. O fato de se tentar transpor deliberada e inesperadamente esses limites pode causar danos e a prática de Yoga não é exceção à regra. Porém, é importante ressaltar que uma aula bem orientada e conduzida por um profissional abalizado e competente muito excepcionalmente causará danos físicos aos praticantes. Só em casos de acidentes mesmo, que, como já vimos, não podem ser 100% eliminados de nenhum segmento da vida humana. Mas muitos dos casos sobre alunos prejudicados pela prática indevida de Yoga, que são relatados hoje em dia, acontecem por pura falta de formação e de informação. Explico: falta de formação qualificada e profissional por parte do professor e falta de informação e de seletividade por parte do aluno. Por isso, minha sugestão é conversar e esclarecer todas as dúvidas possíveis numa entrevista prévia entre o professor e o candidato a aluno. Mesmo que este não aceite as orientações e resolva praticar em outro lugar menos "exigente", os parâmetros profissionais de avaliação individual são imprescindíveis e indiscutivelmente trazem mais segurança a ambos: alunos e professores.

O fator elasticidade

Existe um aspecto que será eternamente pontual nas colocações de pessoas lesionadas pela prática indevida do Yoga: o mito que cerca a questão da famigerada elasticidade muscular. Conheço vários casos de pessoas que intencionalmente "evitam" o Yoga por puro receio de não conseguirem ter um bom desempenho no tocante aos quesitos flexibililidade e alongamento musculares. Alguns chegam a dizer que não nasceram para isso e que não têm a mínima intenção de se tornarem "contorcionistas"...

O fator importante aqui é esclarecer que nossas fibras musculares são elásticas e resistentes. Numa pessoa saudável e em condições normais, elas podem ser exigidas, pois têm a capacidade de se expandir e de se retrair / contrair naturalmente, mas não devem ser forçadas, pois podem se romper. Neste caso especificamente, é importante salientar que exigir é uma coisa e forçar é outra, bem diferente. Nos casos relatados, há a menção de professores que, na intenção de auxiliarem seus alunos a aprimorarem determinadas posturas, forçam, com o uso das mãos e também com o peso parcial do próprio corpo, sua permanência nestas mesmas posturas. Nesses casos, os limites físicos naturais de proteção do praticante estão sendo excedidos pelo ato de forçar que vem de fora e é realizado por uma outra pessoa. E embora em alguns institutos de Yoga na Índia essa seja de fato uma realidade, no Ocidente essas atitudes são altamente questionáveis e merecem mais atenção por parte dos profissionais da área. Como também, a meu ver, merecem uma atenção ainda maior por parte dos praticantes conscientes, que devem zelar por sua própria integridade física. Confiança nos ensinamentos do professor é muito importante e auxilia no desenvolvimento da prática, mas a submissão inquestionável a esses ensinamentos é sinal de imaturidade e de um certo desleixo, pois ninguém melhor que o próprio aluno para saber até onde é possível alongar sua musculatura de forma segura e saudável, sem ter que correr riscos desnecessários.

Se você já é praticante de Yoga, com certeza sabe que numa prática de Yoga bem orientada, nossas fibras musculares são excepcionalmente bem trabalhadas pelas posturas: são tonificadas e flexibilizadas de forma gradual, progressiva e segura. E com certeza você sabe também que, com o passar do tempo e de acordo com o progresso gradual e individual, essa flexibilidade do corpo vai se expandindo para uma crescente flexibilidade de pensamentos, de atitudes e de comportamentos diante dos acontecimentos da vida. E com certeza você também sabe que o ato de forçar alguém a fazer alguma coisa não é, em si, uma atitude sensata e muito menos sensível. Por isso, minha sugestão é que tanto professores quanto alunos exigam o melhor de si mesmos, mas que nunca forcem absolutamente nada - desde fibras musculares a atitudes e comportamentos.

Danos mais comuns

Guardadas as devidas proporções, e já tendo em mente toda a explanação anterior, podemos dizer que fisicamente os danos mais comuns são as lesões em geral: desde as provocadas por uma queda, que pode até chegar a incluir fraturas ósseas, ou um mau jeito no momento de execução de uma determinada postura, que pode provovar luxações. Há também as mais delicadas: estiramentos musculares, lesões nos ligamentos e nas articulações, agravamento de problemas já existentes na coluna, como artroses, hérnias de disco e escolioses. E mesmo disfunções do aparelho respiratório, pois quando as técnicas respiratórias do Yoga não são usadas com sabedoria e competência, elas podem agravar, ao invés de ajudar a solucionar, problemas respiratórios pré-existentes, como rinites, sinusites, bronquites e asma.
Agora, os danos que não são comuns de serem mencionados, mas que talvez sejam os mais graves, são os relacionados às práticas de relaxamento, visualização e meditação - que quando são mal conduzidas podem levar à exacerbação de transtornos emocionais, comportamentais e até mentais muito sérios. E eles são mais comuns do que se possa imaginar. Afinal de contas, o Yoga é antes de tudo uma prática mental e espiritual por excelência, e esses aspectos são muito menos visíveis, e disparadamente muito mais difíceis de se avaliar, do que os decorrentes das posturas. Há, inclusive, algumas facções sectárias que se escondem atrás do rótulo do nome Yoga. São, de certa forma, seitas que transformam seus seguidores em fanáticos obsessivo-compulsivos de sua doutrina. E nesses casos, lamentavelmente, os danos causados são por vezes irreversíveis. Já recebi depoimentos de pessoas que pensavam estar praticando Yoga quando na verdade estavam sendo mentalmente abusadas e manipuladas.

Minha sugestão é que o praticante exercite continuamente sua capacidade de compreensão, de reflexão e suas inteligências racional e intuitiva simultaneamente. Se permitir não concordar e questionar de forma educada e civilizada seus orientadores ou professores é uma maneira salutar de manter o equilíbrio saudável dessa relação. Todo bom profissional aprecia as pessoas interessadas em progredir, em estudar, em se aperfeiçoar, em se tornar independentes e que tenham personalidade para tomar decisões baseadas em suas próprias experiências e convicções, e o professor de Yoga não é exceção a esta regra. Como aluno, sua responsabilidade é perceber se o desenvolvimento de sua prática está lhe trazendo mais segurança, independência, equilíbrio, sensibilidade e inteligência para viver a sua vida e para permitir que outros vivam as suas em paz - mesmo que você não concorde com uma porção de coisas. Pois respeitar as opções de escolha individuais e conviver com as diferenças de forma pacífica é um entre os vários preciosos tesouros que o Yoga tem a nos oferecer.

 

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